(Surrupiado do excelente "Vento Na Cara")
Sempre que Alguém, ao dizer algo para Outro, quer que este lhe dê crédito, pode escolher entre duas estratégias.
Na primeira, Alguém apresenta ao Outro seus argumentos. O Outro então escuta os argumentos, refaz algumas conexões lógicas, confronta o que ouviu com as informações que tem sobre o assunto, confere tudo isso com seus valores pessoais e, ao fim do processo, o Outro decidirá se deve ou não dar crédito ao que Alguém diz.
Na segunda estratégia, Alguém apresenta ao Outro suas credenciais técnicas e sociais. Credenciais técnicas são títulos, certificados, habilidades, experiências profissionais. Credenciais sociais são as posições na sociedade, a quantidade e qualidade de amigos e contatos, as viagens que fez, os lugares em que morou, os consensos e palavras da moda utilizadas em sua fala. O Outro, ao reconhecer tais credenciais, se dará por convencido, e então não há necessidade de prolongar o assunto.
A esta segunda estratégia, dou o nome de carteirada.
Mais estranha que a frequência com que essa estratégia é usada é a frequência com que ela funciona.
Ela é mais rápida que a primeira, e traz “vantagens” para os dois lados. Nela, Alguém não tem o trabalho de selecionar e apresentar argumentos. Nela, o Outro não tem o trabalho de pensar se aquilo que está ouvindo faz sentido ou não, o que nem sempre é tarefa simples.
Com esta estratégia, não existe necessidade de o Outro ter informações e opiniões próprias sobre as coisas. Ele repetirá que Alguém é mesmo uma autoridade no assunto, afinal tem esta e aquela credencial. A discussão será dada como concluída, a interação social estará completa, ambos sairão sentindo que dialogaram.
Um bom observador irá constatar que a estratégia da carteirada é bastante comum, especialmente em alguns meios sociais.
É ela que explica, por exemplo, a necessidade de tanta informação curricular quando alguém é apresentado.
por Dionísio Bueno
Nenhum comentário:
Postar um comentário