sexta-feira, 30 de março de 2012

Dilma ataca peãozada do PIG na reunião dos BRICS

"Meus queridos..."



Em entrevista ao PIG no encontro dos Brics hoje, Dilma falou o que todo mundo queria ouvir, menos o PIG.
Proferiu, ao ser perguntada sobre outros factoides, que os papagaios ali presentes, que, repetindo seus donos, sobre a economia  brasileira e a tal "crise", insistem que temos: 
_"Não posso falar sobre muita coisa, porque a maioria delas são vocês que criam!"

Pena que ela se afastara dos microfones quando foi perguntada, e não voltou, ficou ali para responder.


por Mastrandea

terça-feira, 6 de março de 2012

Repressão na USP: uma estratégia eleitoral de Geraldo Alckmin


Escrito por Alceu Luís Castilho 

Sexta, 02 de Março de 2012



Na última de quarta-feira, foi realizado um show-protesto na Cidade Universitária. Tivemos chances e indícios, não concretizadas, de mais confrontos entre estudantes e Polícia Militar. E mais humilhação de alunos – como as que vêm ocorrendo sistematicamente, nos últimos dias. A reitoria chegou a proibir a entrada de cerveja. Policiais estavam parando carros em busca da droga – legalizada neste país, diga-se de passagem. O clima é desnecessariamente tenso em plena Calourada. Por quê? “Defesa da lei”? Não: estratégia eleitoral. Vejamos.



Na noite desta terça-feira quatro estudantes foram presos na USP. O carro deles foi parado. Policiais buscavam cerveja. Teriam achado uma quantidade – muito pequena – de maconha. Os quatro foram levados para o 14º DP, em Pinheiros. Não é a delegacia-padrão para receber casos da USP. Mas, desde o domingo de carnaval, quando 12 estudantes foram presos durante reintegração de moradia estudantil, tem-se tornado referência. Não é qualquer delegacia: lá também funciona uma Seccional de Polícia.



As alegações de policiais são as de sempre: defesa da “legalidade”. Eles não podem prevaricar, dizem. Como se estivessem, no dia-a-dia, cumprindo estritamente a lei. Arrombando prostíbulos e pontos de jogo do bicho, por exemplo. No domingo de carnaval, policiais militares e civis não conseguiram perceber que prenderam uma adolescente de 16 anos. Ela ficou em cela comum, no 14º DP. Ariel de Castro Alves, da OAB, identificou vários crimes na ação.



Mas a contradição nesse discurso da “legalidade” não é ingênua. Está cada vez mais claro que se trata de um cálculo político. Não basta mais olhar para as páginas de polícia e educação dos jornais para que se entenda a situação. É preciso analisar as páginas de política.



Elas mostram que José Serra aceitou ser o candidato do PSDB a prefeito. Como governador, foi ele quem indicou o atual reitor da USP, João Grandino Rodas – uma figura inexpressiva, autoritária e sem limites em suas ações repressoras. Onde deveria atuar um educador, afirma-se a figura de um xerife.



Mais que um indivíduo isolado, porém, Rodas representa uma turma, um grupo - e uma mentalidade. Ele é apenas uma dessas figuras que, durante o regime militar, não estavam nas fileiras do PMDB, não defendiam a legalidade. A novidade é que esteja sendo bancado por políticos de altas plumas.



O medo do voto



E quem deve ser o principal opositor de Serra na disputa pelo comando do orçamento municipal? O ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT). Precisamos aqui repetir a área de atuação recente de Haddad: educação. É uma figura nova na política eleitoral, pinçada por Lula para tentar quebrar a hegemonia tucana em São Paulo. E qual mesmo a marca de Haddad? Segurança pública, “ordem”, discursos de direita? Não: vimos que sua bandeira é a educação.



Estou sendo repetitivo para deixar clara a conexão entre fatos aparentemente desconexos. Na USP, um reitor truculento, segundo mais votado pela comunidade universitária, mas alçado ao poder por Serra, abre fogo contra a militância estudantil. Autoriza a presença ostensiva de policias no campus, adota estratégia moralista (como a proibição de entrada de cerveja), criminaliza os estudantes – com processos, reintegrações de posse destinadas não somente a seus fins imediatos, mas a passar o seguinte recado: “vocês sabem com quem estão falando?”



Do outro lado, Fernando Haddad vem aí. Com discurso pró-educação. Para falar de Enem, para injetar no debate paulistano (e paulista) uma nova agenda. Com o aval de um ex-presidente popular, sem a rejeição que tinha Marta Suplicy.



Nada garante que isso funcione eleitoralmente contra o projeto tucano – curiosamente marcado pela ausência de projetos de fato. Alckmin (como, antes dele, Serra) tem governado o Estado de uma forma que faz jus ao apelido do ex-prefeito de Pindamonhangaba. Em meio a essa política “picolé de chuchu” vem um petista boa pinta com um discurso mais consistente – goste-se dele ou não, mas com personalidade um pouco mais definida que a média de seus pares.



E qual o antídoto tucano a esse terrível risco de perda de poder político?



Agora está mais claro do que nunca: acirrar uma política à direita, repressiva. Explorar a face conservadora do voto paulista – que, nos últimos pleitos estaduais, esteve longe de cogitar em retirar o PSDB do poder. Cracolândia, Favela do Moinho, Pinheirinho - que sejam retirados do cenário aqueles que atrapalhem esse discurso supostamente asseado, imberbe, "limpinho".



Com tudo isso, imaginam os donos da política paulista, o discurso pró-educação de Haddad será arranhado. E de uma forma maquiavélica: pois a pauta da educação tem sido cuidadosamente associada à pauta da segurança pública. Em um Estado em que os estudantes da maior universidade são cuidadosamente definidos como “baderneiros”, por que, afinal, investir tanto em educação, não é mesmo?



É desta forma que o “magnífico” reitor João Rodas precisa ser visto. Como um ser obscuro a serviço de um modelo de universidade excludente, por um lado. Como peça menor de um jogo político pouco republicano, mas de alta plumagem, pelo outro.



Ordem e cinismo



A carta branca que João Rodas dá à PM na Cidade Universitária visa, portanto, a construção de uma imagem cara aos conservadores: a de que o aparato de segurança está reprimindo os estudantes “maconheiros”; a de que se está preservando a “ordem”. Mesmo que essa palavra seja vazia, que signifique apenas um caminho limpo para se perpetuar um grupo político no poder.



Não à toa, o pai de um dos estudantes presos nesta terça-feira apoiava a ação dos policiais e brigava com qualquer um que falasse o contrário. A percepção política de boa parte da sociedade paulistana é essa: cega, rasa e raivosa. Quase masoquista. É essa fina flor da pretensão quem sempre elegeu figuras como Jânio, Quércia e Maluf; é ela quem se regozija com as opiniões espumantes de “jornalistas” como José Luiz Datena e Luciano Faccioli. É ela quem adora o discurso do “medo”.



A cereja do bolo dos truculentos era essa: injetar, nos estudantes, o medo dos protestos, o medo de pensar e agir diferente, contra a corrente. Nas pessoas da sala de jantar, o medo desses estudantes. Ocorre que essa repulsa é construída: politicamente construída, a partir dos meios de comunicação. Alguém se lembra de um ato dos alunos da USP na Paulista, no fim do ano, em que uma senhora mostrava o dedo do meio para os manifestantes?



Qualquer semelhança com o clima dos anos 60 não é mera coincidência. Naquela época a mesmíssima sociedade paulista apoiou o regime militar – torturador e assassino. Hoje acredita (cega ou cinicamente) no discurso que imputa aos estudantes a condição de “baderneiros”.



A fachada legalista é apenas isso: uma fachada. Somente o doutor Pangloss e Cândido, personagens crédulos de Voltaire, os avôs da Pollyanna e da Velhinha de Taubaté (de Luis Fernando Veríssimo, aquela que acreditava nas boas intenções do presidente João Baptista Figueiredo), poderiam acreditar que, em 2012 em São Paulo, toda a repressão em São Paulo esteja sendo feita em nome dos bons costumes.



E o resto é silêncio



A exploração de corpos femininos em casas de prostituição é ilegal – mas não se está vendo uma preocupação das polícias em fechar o cerco contra os rufiões. O jogo do bicho também é ilegal, mas quem acompanhou alguma operação, nas últimas décadas, contra essa modalidade consolidada de crime organizado?



Bandidos, para esses políticos sem escrúpulos e essa sociedade conivente, são os estudantes portando alguns gramas de maconha na Cidade Universitária. Ou então, como se está vendo de forma absurda em pleno regime democrático, carregando em seus carros perigosíssimos engradados de cerveja.



A pouco mais de seis meses das eleições municipais, está claro o que se quer, no Morumbi e no Butantã: conflito. De preferência com mais alguns gramas de maconha para justificar quaisquer ações policiais. Qualquer coisa que aconteça na Cidade Universitária contra os estudantes, mesmo que seja recheada de ilegalidades, será apoiada por boa parte da sociedade paulistana.



Rodas, Serra e o coordenador de todo esse circo, Geraldo Alckmin, apostam que, em outubro, esses apoiadores serão maioria. Apostam, portanto, em uma disputa eleitoral rançosa e numa gestão de segurança – e de educação – que fique a reboque dessa lógica. Apostam nos anos 60.



O resto é o silêncio de uma sociedade confortavelmente entorpecida.



Alceu Luís Castilho é jornalista formado pela ECA-USP em 1994. Estudante de Geografia na USP. Twitter: @alceucastilho)

Farsa na morte de Marighella

do blog "sintonia fina"





A primeira foto acima, à esquerda, correu o mundo depois da noite de 4 de novembro de 1969. Ela era vista como prova da iminente vitória do governo contra a oposição armada à ditadura militar brasileira. Carlos Marighella, 58 anos, o terrorista mais caçado do País, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização responsável por dezenas de assaltos a bancos e explosões de bombas, estava morto. Amigo de Fidel Castro, celebrado pela Europa como principal comandante da guerra revolucionária na América do Sul, Marighella tinha levado quatro tiros numa emboscada policial na alameda Casa Branca, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Segundo a versão dos militares, o guerrilheiro fora atraído para um “ponto” com religiosos dominicanos simpatizantes da ALN e trocara tiros com os agentes que varejavam o local do encontro.
Um conceituado fotógrafo da revista “Manchete”, Sérgio Vital Tafner Jorge, então com 33 anos, fez o clique da câmara rolleiflex que registrou Marighella estirado no banco traseiro do fusca dos dominicanos. Barriga à mostra, calça aberta, dois filetes de sangue escorrendo pelo rosto.

“Foi tudo uma farsa”, revela agora à ISTOÉ Sérgio Jorge, que está com 75 anos. “Eu vi os policiais colocando o Marighella no banco de trás do carro”. Naquela noite, Jorge estava no Estádio do Pacaembu à espera dos melhores ângulos de um Corinthians x Santos quando ficou sabendo da morte do guerrilheiro. Ele abandonou o estádio antes mesmo de a notícia ser confirmada pelos alto-falantes do Pacaembu e recebida com um urro de comemoração pela torcida. Acompanhado de outros quatro fotógrafos, Jorge chegou à alameda Casa Branca pouco depois das 20 horas. O que ele viu ali – e foi proibido de documentar – era diferente do que aparece na famosa foto estampada depois nas páginas da “Manchete” e em dezenas de outras publicações. Jorge está decidido a contar para a Comissão da Verdade, que o governo federal vai instalar no próximo mês, a armação que testemunhou. Já foi pensando nisso que, no mês passado, com a ajuda de um amigo que serviu de modelo e um fusquinha emprestado, Jorge procurou reproduzir numa nova foto exatamente o que presenciou no dia 4 de novembro de 1969.

O resultado é a segunda cena da página anteior, à direita: o amigo de Jorge, representando Marighella, ocupa o banco da frente do carro, numa posição distinta daquela que a polícia fez questão de espalhar. Eram os anos de chumbo e havia muita coisa para ser escondida.
Os mais famosos retratos da ditadura começam a contar suas verdadeiras histórias. Sérgio Jorge ganhou coragem de revelar a farsa da morte de Marighella depois que o fotógrafo-perito Silvaldo Leung Vieira contou, no dia 5 de janeiro, ao jornal “Folha de S. Paulo” que sua foto do jornalista Vladimir Herzog morto nas dependências do DOI-Codi, em 1975, era – como já se sabia – uma encenação criada pelos militares. Vieira está atrás de uma indenização do Estado brasileiro, pois julga que teve prejudicada sua carreira de funcionário público. Já Sérgio Jorge quer apenas acertar contas com o passado. “Vi que tinha chegado a hora de contar. O Brasil mudou”, diz ele. Durante mais de 40 anos, Jorge remoeu os fatos daquela noite, que é capaz de reconstituir em detalhes. 

Ele e os outros fotógrafos, logo que chegaram à alameda Casa Branca, foram recebidos aos gritos pelo temido delegado do Dops, Sérgio Paranhos Fleury, o homem que comandou o cerco a Marighella. “Não quero ouvir um clique! Todos encostados no muro, com as máquinas no chão!”, ordenou Fleury. Ninguém ousou desobedecer. “Era uma loucura, ficamos vendo tudo aquilo acontecer sem poder registrar nada”, diz Jorge. Marighella estava no banco da frente, com uma perna para dentro do carro e outra para fora, os dois braços caídos e quase nada de sangue na roupa. Três policiais retiraram o corpo do fusca (veja reconstituição acima) e o deitaram na calçada. Abriram a calça de Marighella e revistaram seus bolsos. Tentaram, então, recolocá-lo no banco de trás. “Mas não conseguiam e foi preciso que um dos policiais desse a volta no automóvel e puxasse o corpo para dentro.” A ação durou cerca de 40 minutos até que os fotógrafos foram autorizados a fotografar. Chegando perto do carro, Sérgio Jorge pôde ver que havia uma pasta atrás do banco dianteiro e, sobre o assento de trás, uma peruca e uma capa.

Na presença de Sérgio Jorge e dos demais fotógrafos, os policiais, sem nenhum constrangimento, encenavam um número que viria a se tornar corriqueiro naqueles tempos: o teatro do confronto entre guerrilheiros urbanos e as forças da repressão. A ditadura no Brasil deixou um saldo macabro de 475 adversários mortos, 163 deles ainda desaparecidos. Foi a partir de 1969, o ano da morte de Marighella, que o regime militar ingressou em seu período mais duro e a eliminação de inimigos passou a ser regra. As execuções de militantes de esquerda, sem chance de prisão, tornaram-se tão comuns quanto os laudos fantasiosos de inquéritos policiais destinados apenas a escamotear uma política oficial de extermínio. No caso de Carlos Marighella, o esclarecimento de sua morte é especialmente problemático, pois existem pelo menos três versões conflitantes para ela. Primeiro há a versão dos militares, segundo a qual ele foi varado por uma rajada de metralhadora quando, do banco de trás do fusca dos dominicanos, reagiu a tiros a uma ordem de prisão do delegado Fleury. A perícia, entretanto, acabou concluindo que não saíra um tiro sequer da arma de Marighella.
Desse modo, a tese da polícia parece não ser mais que um esforço para esconder a provável execução sumária do guerrilheiro, além de uma tentativa de driblar uma complicação extra do episódio: a suspeita de que, naquela noite, foi o fogo amigo que matou também uma jovem policial e um dentista alemão que casualmente passava pelo local no momento do tiroteio (outro delegado, um desafeto de Fleury, acabou baleado na virilha). A segunda versão é a dos dois frades dominicanos que a polícia usou como isca para Marighella. Em seu julgamento, os religiosos sustentaram que o guerrilheiro foi executado no meio da rua, longe do fusca em que eles estavam. Por fim, o Grupo Tortura Nunca Mais, em 1996, adotou as conclusões de um laudo em que legistas garantem que Marighella foi morto com um tiro no peito à queima-roupa, que seccionou-lhe a aorta, e alvejado ainda por outros três disparos.
Carlos Marighella era autor do “Manual do Guerrilheiro Urbano”, um confuso texto de 50 páginas que jovens esquerdistas de todo o mundo liam como uma bíblia. Figura principal dos cartazes amarelos que a ditadura espalhava com retratos de terroristas, vinha sendo caçado pelo Dops e monitorado pela máquina de informações dos Estados Unidos. Um ano antes de sua morte, o consulado americano em São Paulo já informara seu governo sobre as relações de Marighella com os dominicanos. Agora, o depoimento exclusivo de Sérgio Jorge à ISTOÉ – e que ele se dispõe a prestar também à Comissão da Verdade, instituída pelo governo para esclarecer as mortes ocorridas durante a ditadura – poderá jogar uma nova luz sobre os fatos, embora ainda seja difícil fazer conjecturas sobre as intenções específicas dos policiais que transferiram o corpo de Marighella para o banco de trás do carro.
Sérgio Jorge foi o primeiro fotógrafo do País a ganhar o Prêmio Esso de Jornalismo. Ele conta que, quando chegou à redação da “Manchete” com a foto do cadáver de Marighella, teve o cuidado de relatar a seu chefe a armação que tinha visto. Ouviu como resposta que a versão de Fleury seria a definitiva e, sempre avesso à política, resolveu se calar. “Todo mundo me dizia para não me meter com essas coisas que era muito perigoso”, diz ele.

O caso só voltou a perturbá-lo cinco anos atrás, no momento em que começou a selecionar fotografias para um livro em seu arquivo pessoal, com mais de 60 mil imagens. As fotos de Marighella não estão com ele: foram parar num arquivo da revista “Manchete”, recentemente leiloado. “Dos fotógrafos que estavam comigo naquele dia, só eu estou vivo. Cheguei à conclusão de que não posso levar para o túmulo a história verdadeira”, diz Sérgio Jorge. “Sempre tive muito medo, mas com a Comissão da Verdade acho que chegou a hora.”
Nilmário Miranda, um dos representantes da comissão do Ministério da Justiça que, em 1996, responsabilizou o Estado brasileiro pela morte de Marighella, considera importante o depoimento de Sérgio Jorge. “Isso vai ajudar a Comissão da Verdade a regatar os fatos históricos”, diz ele. “Ao invés de suicídios, assassinatos cruéis. Ao invés de fugas da prisão, desaparecimentos forçados. Ao invés de tiroteios simulados, execuções à queima-roupa.” O advogado de presos políticos Mário Simas, que foi a primeira voz a afrontar a versão oficial da morte de Marighella, quando fazia a defesa dos frades dominicanos, espera que o depoimento de Jorge possa, finalmente, contribuir para o esclarecimento do caso. “No processo, lancei dez dúvidas sobre a versão oficial que nunca foram respondidas pelo Estado”, diz ele. Simas, que presidiu a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, não tem dúvidas sobre o modo de ação da polícia: “O delegado Fleury era um caçador sem escrúpulos, que não respeitava nada para chegar a seus objetivos.”

Aos 86 anos, a mulher de Marighella, Clara Charf, se espanta ao saber das revelações de Sérgio Jorge. Ela estranha que seu marido, que não sabia dirigir, estivesse ocupando o banco do motorista do fusca. Mas acredita que este depoimento possa enterrar de vez a versão “mentirosa” da polícia. “É um impulso muito grande para a revisão da história”, diz ela. É uma expectativa idêntica à do ex-militante Otávio Ângelo, certamente um dos últimos companheiros que viram Marighella vivo. Membro do Grupo Tático Armado da ALN, Otávio Ângelo estava no derradeiro “ponto” que Marighella cumpriu no fim da tarde do dia 4 de novembro de 1969, antes de ir para a alameda Casa Branca. Eles se encontraram no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo e, segundo Otávio Ângelo, Marighella se mostrava muito preocupado com a segurança da organização por causa da prisão de vários militantes. 
“Ele parecia nervoso, apreensivo”, relembra. “Falava que estávamos no cerco e que, se não conseguíssemos sair desse cerco, não sobreviveríamos.” A previsão de Marighella, como se vê, acabaria cumprida em poucas horas.


Sintonia Fina - Alan Rodrigues



por Mastrandea