por Walter Falceta Jr.
Demorou (e muito) até que conseguíssemos mudar um tantinho a imagem do Brasil, reputado lá fora como um território de licenciosidade tropical, miserável, lascivo e entorpecido por toda sorte de narcóticos.
De repente, dois "brasileiros", fluentes em Inglês, resolvem dizer ao
mundo que aqui é realmente o inferno. Dizem às pessoas para não vir à
Copa do Mundo e, de quebra, pintam o país como uma péssima opção de
investimento.
O vídeo da caras e bocas Carla Dauden, que vive
em Los Angeles, foi produzido com esmero e profissionalismo, ainda que
ela tente vender a versão de se trata de uma obra caseira e
despretensiosa.
Para a "cineasta", o Brasil é um lugar de samba, festa e dança, atividades que inevitavelmente são acompanhadas pela droga.
Entre uma torcida de lábio e outra, em 6 minutos e 10 segundos, a jovem
cria uma história de horrores associada ao torneio da FIFA. Afirma que
pessoas estão sendo expulsas violentamente de suas casas, sem direito a
qualquer indenização, pelos organizadores do evento.
Sem corar,
manipula números e fatos. Fala de uma terra devastada, com uma multidão
de famintos e analfabetos, vítimas de um governo desalmado e mentiroso.
Utiliza cenas de um discurso de Dilma Rousseff para apresentar imagens
pinçadas de um suposto caos social, em que expõe enchentes, conflitos em
favelas e protestos de índios.
Para Carla, as UPPs no Rio,
por exemplo, servem apenas para esconder os bandidos durante os eventos
esportivos. Segundo ela, a proposta é empurrar a sujeira para debaixo do
tapete.
Em seu panorama do país, não há qualquer referência à
redução da miséria, ao robustecimento da classe média, à geração recorde
de empregos e à universalização do acesso ao ensino superior.
Carla mostra um Brasil em ruínas, feio e, logicamente, comandado por uma
mulher nada interessada em gerar benefícios à população.
O vídeo do Change Brazil, estrelado por Silvio Roberto Maia, segue na mesma linha de desqualificação do país e de seu governo.
Este vídeo subiu ao Youtube no dia 14 de Junho e hoje registra 1,4
milhão de views. O de Carla foi postado três dias depois e hoje soma 3,4
milhões de views.
Ambos negam a ligação com partidos e a
intenção de aproveitar politicamente a exaltação dos jovens que lutavam
pela redução nos preços das tarifas de transporte.
Curiosamente, no entanto, os vídeos foram imediatamente replicados nos grupos neoconservadores e fascistas das redes sociais.
No dia seguinte a cada postagem, a mídia hegemônica catapultou os
detratores do Brasil ao estrelado. Augusto Nunes, de Veja, escreveu
assanhado sobre o trabalho de Carla Dauden, elogiando-a por "desmontar a
vigarice bilionária da Copa da Ladroagem".
Outras figuras
marcadas do alto comando da campanha de direita, como o dublê de
comediante Marcelo Tas, também moveram esforços para valorizar os
revoltosos gringos e propagar suas bombas cibernéticas.
Varrendo a enorme lista de artigos sobre as manifestações pelo Brasil, o
cidadão-leitor deparar-se-á com jornalistas e acadêmicos cheios de
convicções, desenhando uma reação popular espontânea, resultado do
ciber-zeitgeist e do interesse pio do jovem em construir um mundo
melhor.
A produção cuidada dessas peças de publicidade, assim
como o criterioso sistema de promoção e distribuição de que têm se
servido, no entanto, mostram que a história é outra e não cabe vez à
ingenuidade.
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