por Emilio Galhardo Filho
Durante 500 anos, não se importaram.
Quando a posse da terra era obtida pelas balas dos jagunços, com expulsão dos pobres às periferias citadinas, não se importaram.
E se os negros que lutaram em Canudos subiam o Morro da Favela para construir barracos, não se importaram.
Quando as favelas tomaram conta das periferias de nossas cidades, abandonadas pelo estado, não fizeram caso.
Quando crianças eram abandonadas à rua e criadas pela lei da violência delas, dirigiram um olhar de desdém.
Quando hospitais e escolas públicos eram deixados sem médicos e professores e sem equipamento, não se importaram.
E apoiaram a Ditadura Militar, quando diminuía o salário mínimo e sufocava as reivindicações populares. E talvez houvesse um riso sádico no canto de suas bocas quando os militares mandavam camponeses subnutridos às "frentes de trabalho", sob o sol e "manu militari", ou quando chacinavam nossos indígenas.
E quando, no ano de 2000, o Brasil exibia a pior concentração de renda do mundo, junto à Serra Leoa, país africano conflagrado por guerras, deram de ombros.
Sempre culparam os miseráveis por sua própria desgraça. A culpa só recaía sobre sua indolência e fecundidade. E não se importaram.
E quantos jovens não diziam com olhos brilhando, "eu quero pertencer a BOPE!", após o filme fascista? Que vida melhor há de ter do que aquela com cabeças de pobres em sacos plásticos e cabos de vassoura em seus anus?
Agora, esses que sempre desprezaram e odiaram nossos pobres, os descobriram. Descobriram nossos hospitais e escolas decadentes e nossa miséria avassaladora e os exibem, orgulhosos, em fotos na internet.
Exibem essas fotos fingindo que se importaram e se importam e creem ser capazes de esconder suas intenções políticas sob esse manto de desgraça.
Mas, agora, não há solução rápida para séculos de descaso.
E basta uma cena de violência contra um pobre, para que aflore o caráter fascista e a solução que aninham, dissimulada pela hipocrisia - a eliminação física dos miseráveis.
postado por Mastrandrea
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