Em junho de 2001, a imprensa brasileira e mundial dava destaque a um aspecto pouco noticiado até então.
No Peru, coração do antigo império dos incas, havia sido eleito o primeiro presidente indígena da história do país.
Ficava claro que o país se dividia radicalmente entre os brancos descendentes dos colonizadores europeus e os não brancos, basicamente indígenas.
Curiosamente entre os "brancos" estavam também os peruanos nipo-descendentes, que formam a segunda maior colônia fora do Japão (apesar de emigração forçada para os campos de concentração dos EUA na Segunda Guerra).
Enfim, quem dominou o Peru independente no início do século 19 foram os "brancos". Os outros ficaram de lado e eram desprezados de todas as formas, da cultura à política.
A situação peruana não era única na chamada hispano-américa naquele começo de século 21, como os noticiários iriam mostrar.
O mesmo ocorria na Venezuela, onde Hugo Chávez era "acusado"(?) de ser índio pela classe média Armani-Gucci, enojada, em marcha pelas ruas mais elegantes de Caracas. E ficou escancarado na Bolívia, com a eleição pós-revolução de Evo Morales, um indígena aymará.
Da "ilha" Brasil, olhávamos para o Oeste e pensávamos como eram atrasados e bárbaros esses nossos estranhos vizinhos.
Será mesmo?
Verdade que aqui os indígenas foram um "problema" resolvido pelos brancos no século 18.
Mas, o fato é que surgiram no Brasil novos "índios", fruto da mistura de indígenas resistentes, brancos desgarrados e principalmente negros arrancados da África para produzirem tudo.
"Índios" que, com o passar dos séculos, criaram um sotaque próprio, modos de falar, ritmos musicais, jeitos de festejar. Tudo fruto de um mix de coisas: a falta de educação formal, as raízes históricas, a miséria, a inteligência para superar os limites e as diversidades, a exclusão do poder.
O Brasil é, e reafirmo, o Brasil 'É' a mistura da ocidentalização dominante (que teve sucesso em impor a língua e a religião, por exemplo) com esses "índios" não ocidentais. Mistura que às vezes anda e dá liga, e às vezes desanda.
Quem mais contribui para o desandar são os "brancos" que só admitem a ocidentalização radical, pretensos lisboetas na Colônia que no século 19 se tornaram pretensos parisienses uns, londrinos outros, berlinenses os mais ousados. Nova-iorquinos quase todos no século 20. É o povo do Brazil.
Para o Brazil, os "índios" são vagabundos, bêbados, fracos para os vícios (sexo, drogas, ociosidade etc. etc.), que só querem festejar, batucar, jogar bola, trepar. São bregas, ignorantes. Culpados por sua pobreza e inferioridade social atávicas.
Ao Brazil, Miami. Ao Brasil, a Rota (ou o Bope)!
Cantava Elis que o Brazil não conhece o Brasil. E que o Brazil tá matando o Brasil.
Eu diria que o Brazil tem nojo do Brasil.
E a mais recente vítima do Brazil é a Copa.
Claramente uma parte do 'não vai ter Copa' é o coro do Brazil contra o Brasil.
Alguns textos por aí são explícitos ao afirmar isso.
O Brazil não quer educação e saúde públicas caras para o Brasil. Mas faz demagogia com isso para destilar o nojo contra essa negada suada que insiste em jogar futebol e, pior, torcer pelo futebol.
O Brazil da Fórmula-1, do MMA, do Grand Slam, cada vez mais torce para o futebol do Barça, do Chelsea, do Bayern.
O Curíntia, o Mengo & cia. vão ficando para o Brasil mesmo.
Quem sabe se o BNDES tivesse financiado estádios na Europa…
Ah, que tempos dissimulados. Que chato tudo isso.
por Arnaldo Ferreira Marques, em seu Facebook
07/06/2014
07/06/2014
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