quinta-feira, 29 de novembro de 2012

"Caetanas bobagens"

"Lula é cafona..."

Quem se não lembra de quando o não-cafona cantor, acima ilustrado em momento de descontração, proferiu: “Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla…É inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem”.
Hoje, lendo uma postagem de um blog, lembrei-me do ocorrido, e resolvi reproduzir essa bizarrice proferida pelo chique e calorento ídolo da MPB, com a devida resposta de um linguista.
Já respondi, aqui, à Rede Globo e Moniquinha , em postagem de 2011 (clique aqui para ler "É uma mula esses jornalista") sobre linguística... Para o PIG, creiam-me, o intuito de derrubar Ministro petista e atacar Lula justifica, até mesmo, tentar derrubar, à força, os paradigmas de uma ciência!


CAETANAS BOBAGENS

Marcos Bagno – Outubro de 2008
Caetano Veloso é um dos mais brilhantes letristas, compositores e cantores da nossa música popular. Mas ele não se satisfaz com isso. Também quer ser sociólogo, antropólogo, filósofo, historiador, ensaísta, cineasta, teólogo, crítico literário… Recentemente, decidiu falar de lingüística. Com a petulância dos mal-informados e a arrogância das celebridades, acredita que por ter lido Saussure em meados do século passado está autorizado a dissertar sobre e, principalmente, contra os lingüistas profissionais. Vá estudar, Caetano: a ciência da linguagem já passou por muitas revoluções epistemológicas desde 1916. Ou não se meta a falar do que não sabe, dizendo que sabe.

Não tenho como debater todas as bobagens que ele escreveu e que as caetanetes se apressaram, gotejantes, em elogiar. Me restrinjo à defesa que ele faz dos falsos gramáticos que invadiram a mídia brasileira na última década e meia. O problema que os lingüistas apontam no trabalho dessas pessoas é que elas apregoam um estereótipo tosco, rígido, estreito e, finalmente, mentiroso de “língua certa” que não corresponde aos usos reais e efetivos nem sequer das nossas elites urbanas mais letradas. Formas lingüísticas usadas há mais de um século e consagradas na obra dos nossos melhores escritores são sistematicamente combatidas por esses gramaticóides como “erros”, “desvios” e “impropriedades”. Opções que aparecem na própria escrita poética de Caetano são veementemente condenadas por eles. Ou não? “Deixa eu cantar pro meu corpo ficar Odara”, por exemplo…

Os lingüistas não são populistas nem demagogos. Essa é a acusação tacanha de quem só lê pela metade o que nós escrevemos, se é que lê. Defender as variedades lingüísticas das camadas desprestigiadas não significa dizer que esses cidadãos não devem ter acesso a um grau mais elevado de letramento (não sabe o que é letramento? vá estudar!). Todos os lingüistas que conheço (e conheço muitos) lutam pelo pleno acesso dos cidadãos às formas prestigiadas de falar e de escrever. Acontece que essas formas prestigiadas reais não são o modelo estúpido e jurássico de “português correto” que os falsos gramáticos tentam inculcar em suas manifestações na mídia. Há um abismo profundo entre a verdadeira norma culta brasileira, falada e escrita pelas nossas camadas privilegiadas, e a “norma oculta” que os gramaticóides defendem. É contra isso que os lingüistas se batem. 

Os brasileiros urbanos letrados falam e escrevem uma língua que não é reconhecida como legítima, porque no nosso imaginário lingüístico vigora um ideal de correção inspirado em usos literários lusitanos de meados do século XIX. Se você não fala como Eça de Queirós escreveu, está tudo errado! Até quando, meu pai Oxóssi?

Infelizmente, quando o assunto é língua, até mesmo as pessoas mais inteligentes se deixam engambelar por aquilo que os estudiosos de língua inglesa chamam de “folk linguistics”, um conjunto de mitos, superstições e inverdades sobre a língua e a linguagem que se entranharam na cultura ocidental e que resistem a toda contestação racional, baseada na pesquisa científica e nos dados da realidade.

Surrupiado do blog de Fábio Campana: 

http://www.fabiocampana.com.br/

por Mastrandea



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

"Há muito tempo atrás, não eram os bombeiros responsáveis por apagar incêndios, ao invés de queimar livros?"




Clique aqui  para ver como será (não digo seria, porque considero esta não uma obra de ficção, mas uma profecia) o mundo sem livros.
Grande obra de Ray Bradbury adaptada para o cinema.
Filmado em 1966, é tema atualíssimo e real...



"Há muito tempo atrás, não eram os bombeiros responsáveis por apagar incêndios, ao invés de queimar livros?"




Bom filme!!!




por Mastrandea

sábado, 10 de novembro de 2012

Como ser um bundão III


dica 041 - Admirar o talento do Pedro Bial

Que o Big Brother Brasil é um programa de baixa qualidade, apelativo e aculturado, não restam dúvidas para você, médio-classista esclarecido , telespectador do Jornal Nacional e do Fantástico. Você, enquanto membro ativo da Classe Média, deve defender este ponto de vista na roda de amigos, assentindo com a cabeça e dizendo "é mesmo" enquanto seus interlocutores desqualificam a tal atração televisiva. Mas não se preocupe, este sacrifício deve durar no máximo dois minutos, até que alguém comente algum diálogo ou situação do programa. Neste ponto, todos concordarão, darão mais detalhes do acontecimento, comentarão até o penteado e a roupa dos "brothers", e em instantes, como mágica, todos se revelarão espectadores da atração global, se apoiando na desculpa de que "não tem nada melhor na tv neste horário" e "todo mundo assiste mesmo, o que é que tem?".

Anualmente engrossando (pelo jeito à força) essa  audiência, a Classe Média concorda que a cultura e a inteligência do apresentador Pedro Bial fazem o programa valer à pena. Sua superioridade intelectual fica mais evidente quando ele conversa com os participantes do programa, onde dá pra se comparar o vocabulário e as idéias das pessoas comuns, gente de bem como a gente, com os deste verdadeiro poeta. E vale à pena prestar atenção enquanto Bialtransborda em lirismo nas ocasiões em que participantes são eliminados, principalmente no capricho da locução dramática. É emocionante! O Bial é o sobrinho que toda tia de Classe Média sempre quis ter: educadinho, cabelinho lambido, tem fama de inteligente, é comportadinho na escola, mas como não é seu filho, não precisa gastar seu tempo argumentando contra a sua fama de esquisito e de menino-de-apartamento.

Ainda bem que existe a televisão, para abarcar talentos assim tão extraordinários. Difícil imaginar a TV sem Bial, sem Zeca Camargo, sem o Jô e sem o Jabor. E ainda bem que existe iPod, pois assim você pode mostrar a todo mundo, além da traquitana eletrônica importada, o fato de você transportar em seu bolso aquelamúsica/mensagem-de-fim-de-ano/poema-moderno sobre o filtro solar, que já te arrancou muitas lágrimas teimosas.

mais um roubo do "Mastrandea" ao "Classe Média Way of Life" (de quando ainda havia, ali, postagens diárias)

"Classe Media Way of Life" na área de novo

Resolvemos, extremamente mal pagos que somos, nós, funcionários do "Mastrandea", diante da falta proposital de produtividade, e da consequente inércia de nosso chefe-diretor-editor, reproduzir mais um hilário e inteligentíssimo post do "Classe Média", um blog da melhor qualidade criativa e coerência editorial.
Ei-lo!


Deleite sem limites para a Classe Média (2): o filme do Lula




Você não leu errado. O filme do Lula é, sim, deleite sem limites para a Classe Média. Tudo o que o médio-classista padrão mais queria como presente para o início do ano, era um motivo bem grande pra falar mal do Lula. Graças à ambição desmedida do diretor e do produtor, à massagem certeira no ego do mandatário e à cabeça oca de uma pá de assessores presidenciais, estreou, no primeiro dia do ano, o filme sobre a vida do Presidente da República.

A se julgar que na Classe Média todos são esclarecidos e escolarizados, o que quer dizer, exatamente, que são inteligentes, e ao juntarem na mesma equação “filme do Lula” e “ano eleitoral”, há de se chegar à brilhante conclusão de que o filme tem intenções eleitoreiras. Provar a própria inteligência é um deleite para a Classe Média.

Quando o médio-classista abrir a Veja e ler que o filme é horroroso, mentiroso, exagerado e politicamente tendencioso, que transformaram um vilão em heroi, soltará um “eu já sabia” em pensamento. A confirmação de seu poder de dedução é um deleite para a Classe Média.

Quando for ao cinema assistir Avatar, e for obrigado a ver o trailler do filme do Lula, berrará palavras como “ladrão” e “cachaceiro”, mostrando toda a educação da Classe Média, que se abstém de gritar “paraíba”, “baiano” ou algum nome em referência à deficiência física do personagem, porque mamãe ensinou, na sala do apartamento, que é feio. Provar a superioridade da própria criação é deleite para a Classe Média.

Quando a Folha publicar uma matéria informando que “descobriu” que os financiadores do filme têm interesses no Governo, ficará surpreso pelo fato de empreiteiros e empresários um dia financiarem alguma coisa de olho em vantagens na relação com o poder público. Lula perverteu os coitados dos empresários! Demonstrar publicamente esclarecimento e conhecimento dos fatos é o puro deleite da Classe Média.

Não assistir o filme e dizer que o mesmo é ruim, é liberdade de expressão. Para o deleite da Classe Média, nasce um clássico do gênero “não vi e não gostei”.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Russomano, o bom.

(Rogai por nós, os paulistas)





Assim como José Chirico Cerra, o virtuoso, este homem puro e de boa casta representa a Família, a Oração, os Bons Costumes e a Monogamia. 
É a cara de SP!!!
Para vê-lo em mais uma tentativa de conversão de um´alma perdida, clique aqui.


por Mastrandea

sexta-feira, 30 de março de 2012

Dilma ataca peãozada do PIG na reunião dos BRICS

"Meus queridos..."



Em entrevista ao PIG no encontro dos Brics hoje, Dilma falou o que todo mundo queria ouvir, menos o PIG.
Proferiu, ao ser perguntada sobre outros factoides, que os papagaios ali presentes, que, repetindo seus donos, sobre a economia  brasileira e a tal "crise", insistem que temos: 
_"Não posso falar sobre muita coisa, porque a maioria delas são vocês que criam!"

Pena que ela se afastara dos microfones quando foi perguntada, e não voltou, ficou ali para responder.


por Mastrandea

terça-feira, 6 de março de 2012

Repressão na USP: uma estratégia eleitoral de Geraldo Alckmin


Escrito por Alceu Luís Castilho 

Sexta, 02 de Março de 2012



Na última de quarta-feira, foi realizado um show-protesto na Cidade Universitária. Tivemos chances e indícios, não concretizadas, de mais confrontos entre estudantes e Polícia Militar. E mais humilhação de alunos – como as que vêm ocorrendo sistematicamente, nos últimos dias. A reitoria chegou a proibir a entrada de cerveja. Policiais estavam parando carros em busca da droga – legalizada neste país, diga-se de passagem. O clima é desnecessariamente tenso em plena Calourada. Por quê? “Defesa da lei”? Não: estratégia eleitoral. Vejamos.



Na noite desta terça-feira quatro estudantes foram presos na USP. O carro deles foi parado. Policiais buscavam cerveja. Teriam achado uma quantidade – muito pequena – de maconha. Os quatro foram levados para o 14º DP, em Pinheiros. Não é a delegacia-padrão para receber casos da USP. Mas, desde o domingo de carnaval, quando 12 estudantes foram presos durante reintegração de moradia estudantil, tem-se tornado referência. Não é qualquer delegacia: lá também funciona uma Seccional de Polícia.



As alegações de policiais são as de sempre: defesa da “legalidade”. Eles não podem prevaricar, dizem. Como se estivessem, no dia-a-dia, cumprindo estritamente a lei. Arrombando prostíbulos e pontos de jogo do bicho, por exemplo. No domingo de carnaval, policiais militares e civis não conseguiram perceber que prenderam uma adolescente de 16 anos. Ela ficou em cela comum, no 14º DP. Ariel de Castro Alves, da OAB, identificou vários crimes na ação.



Mas a contradição nesse discurso da “legalidade” não é ingênua. Está cada vez mais claro que se trata de um cálculo político. Não basta mais olhar para as páginas de polícia e educação dos jornais para que se entenda a situação. É preciso analisar as páginas de política.



Elas mostram que José Serra aceitou ser o candidato do PSDB a prefeito. Como governador, foi ele quem indicou o atual reitor da USP, João Grandino Rodas – uma figura inexpressiva, autoritária e sem limites em suas ações repressoras. Onde deveria atuar um educador, afirma-se a figura de um xerife.



Mais que um indivíduo isolado, porém, Rodas representa uma turma, um grupo - e uma mentalidade. Ele é apenas uma dessas figuras que, durante o regime militar, não estavam nas fileiras do PMDB, não defendiam a legalidade. A novidade é que esteja sendo bancado por políticos de altas plumas.



O medo do voto



E quem deve ser o principal opositor de Serra na disputa pelo comando do orçamento municipal? O ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT). Precisamos aqui repetir a área de atuação recente de Haddad: educação. É uma figura nova na política eleitoral, pinçada por Lula para tentar quebrar a hegemonia tucana em São Paulo. E qual mesmo a marca de Haddad? Segurança pública, “ordem”, discursos de direita? Não: vimos que sua bandeira é a educação.



Estou sendo repetitivo para deixar clara a conexão entre fatos aparentemente desconexos. Na USP, um reitor truculento, segundo mais votado pela comunidade universitária, mas alçado ao poder por Serra, abre fogo contra a militância estudantil. Autoriza a presença ostensiva de policias no campus, adota estratégia moralista (como a proibição de entrada de cerveja), criminaliza os estudantes – com processos, reintegrações de posse destinadas não somente a seus fins imediatos, mas a passar o seguinte recado: “vocês sabem com quem estão falando?”



Do outro lado, Fernando Haddad vem aí. Com discurso pró-educação. Para falar de Enem, para injetar no debate paulistano (e paulista) uma nova agenda. Com o aval de um ex-presidente popular, sem a rejeição que tinha Marta Suplicy.



Nada garante que isso funcione eleitoralmente contra o projeto tucano – curiosamente marcado pela ausência de projetos de fato. Alckmin (como, antes dele, Serra) tem governado o Estado de uma forma que faz jus ao apelido do ex-prefeito de Pindamonhangaba. Em meio a essa política “picolé de chuchu” vem um petista boa pinta com um discurso mais consistente – goste-se dele ou não, mas com personalidade um pouco mais definida que a média de seus pares.



E qual o antídoto tucano a esse terrível risco de perda de poder político?



Agora está mais claro do que nunca: acirrar uma política à direita, repressiva. Explorar a face conservadora do voto paulista – que, nos últimos pleitos estaduais, esteve longe de cogitar em retirar o PSDB do poder. Cracolândia, Favela do Moinho, Pinheirinho - que sejam retirados do cenário aqueles que atrapalhem esse discurso supostamente asseado, imberbe, "limpinho".



Com tudo isso, imaginam os donos da política paulista, o discurso pró-educação de Haddad será arranhado. E de uma forma maquiavélica: pois a pauta da educação tem sido cuidadosamente associada à pauta da segurança pública. Em um Estado em que os estudantes da maior universidade são cuidadosamente definidos como “baderneiros”, por que, afinal, investir tanto em educação, não é mesmo?



É desta forma que o “magnífico” reitor João Rodas precisa ser visto. Como um ser obscuro a serviço de um modelo de universidade excludente, por um lado. Como peça menor de um jogo político pouco republicano, mas de alta plumagem, pelo outro.



Ordem e cinismo



A carta branca que João Rodas dá à PM na Cidade Universitária visa, portanto, a construção de uma imagem cara aos conservadores: a de que o aparato de segurança está reprimindo os estudantes “maconheiros”; a de que se está preservando a “ordem”. Mesmo que essa palavra seja vazia, que signifique apenas um caminho limpo para se perpetuar um grupo político no poder.



Não à toa, o pai de um dos estudantes presos nesta terça-feira apoiava a ação dos policiais e brigava com qualquer um que falasse o contrário. A percepção política de boa parte da sociedade paulistana é essa: cega, rasa e raivosa. Quase masoquista. É essa fina flor da pretensão quem sempre elegeu figuras como Jânio, Quércia e Maluf; é ela quem se regozija com as opiniões espumantes de “jornalistas” como José Luiz Datena e Luciano Faccioli. É ela quem adora o discurso do “medo”.



A cereja do bolo dos truculentos era essa: injetar, nos estudantes, o medo dos protestos, o medo de pensar e agir diferente, contra a corrente. Nas pessoas da sala de jantar, o medo desses estudantes. Ocorre que essa repulsa é construída: politicamente construída, a partir dos meios de comunicação. Alguém se lembra de um ato dos alunos da USP na Paulista, no fim do ano, em que uma senhora mostrava o dedo do meio para os manifestantes?



Qualquer semelhança com o clima dos anos 60 não é mera coincidência. Naquela época a mesmíssima sociedade paulista apoiou o regime militar – torturador e assassino. Hoje acredita (cega ou cinicamente) no discurso que imputa aos estudantes a condição de “baderneiros”.



A fachada legalista é apenas isso: uma fachada. Somente o doutor Pangloss e Cândido, personagens crédulos de Voltaire, os avôs da Pollyanna e da Velhinha de Taubaté (de Luis Fernando Veríssimo, aquela que acreditava nas boas intenções do presidente João Baptista Figueiredo), poderiam acreditar que, em 2012 em São Paulo, toda a repressão em São Paulo esteja sendo feita em nome dos bons costumes.



E o resto é silêncio



A exploração de corpos femininos em casas de prostituição é ilegal – mas não se está vendo uma preocupação das polícias em fechar o cerco contra os rufiões. O jogo do bicho também é ilegal, mas quem acompanhou alguma operação, nas últimas décadas, contra essa modalidade consolidada de crime organizado?



Bandidos, para esses políticos sem escrúpulos e essa sociedade conivente, são os estudantes portando alguns gramas de maconha na Cidade Universitária. Ou então, como se está vendo de forma absurda em pleno regime democrático, carregando em seus carros perigosíssimos engradados de cerveja.



A pouco mais de seis meses das eleições municipais, está claro o que se quer, no Morumbi e no Butantã: conflito. De preferência com mais alguns gramas de maconha para justificar quaisquer ações policiais. Qualquer coisa que aconteça na Cidade Universitária contra os estudantes, mesmo que seja recheada de ilegalidades, será apoiada por boa parte da sociedade paulistana.



Rodas, Serra e o coordenador de todo esse circo, Geraldo Alckmin, apostam que, em outubro, esses apoiadores serão maioria. Apostam, portanto, em uma disputa eleitoral rançosa e numa gestão de segurança – e de educação – que fique a reboque dessa lógica. Apostam nos anos 60.



O resto é o silêncio de uma sociedade confortavelmente entorpecida.



Alceu Luís Castilho é jornalista formado pela ECA-USP em 1994. Estudante de Geografia na USP. Twitter: @alceucastilho)

Farsa na morte de Marighella

do blog "sintonia fina"





A primeira foto acima, à esquerda, correu o mundo depois da noite de 4 de novembro de 1969. Ela era vista como prova da iminente vitória do governo contra a oposição armada à ditadura militar brasileira. Carlos Marighella, 58 anos, o terrorista mais caçado do País, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização responsável por dezenas de assaltos a bancos e explosões de bombas, estava morto. Amigo de Fidel Castro, celebrado pela Europa como principal comandante da guerra revolucionária na América do Sul, Marighella tinha levado quatro tiros numa emboscada policial na alameda Casa Branca, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Segundo a versão dos militares, o guerrilheiro fora atraído para um “ponto” com religiosos dominicanos simpatizantes da ALN e trocara tiros com os agentes que varejavam o local do encontro.
Um conceituado fotógrafo da revista “Manchete”, Sérgio Vital Tafner Jorge, então com 33 anos, fez o clique da câmara rolleiflex que registrou Marighella estirado no banco traseiro do fusca dos dominicanos. Barriga à mostra, calça aberta, dois filetes de sangue escorrendo pelo rosto.

“Foi tudo uma farsa”, revela agora à ISTOÉ Sérgio Jorge, que está com 75 anos. “Eu vi os policiais colocando o Marighella no banco de trás do carro”. Naquela noite, Jorge estava no Estádio do Pacaembu à espera dos melhores ângulos de um Corinthians x Santos quando ficou sabendo da morte do guerrilheiro. Ele abandonou o estádio antes mesmo de a notícia ser confirmada pelos alto-falantes do Pacaembu e recebida com um urro de comemoração pela torcida. Acompanhado de outros quatro fotógrafos, Jorge chegou à alameda Casa Branca pouco depois das 20 horas. O que ele viu ali – e foi proibido de documentar – era diferente do que aparece na famosa foto estampada depois nas páginas da “Manchete” e em dezenas de outras publicações. Jorge está decidido a contar para a Comissão da Verdade, que o governo federal vai instalar no próximo mês, a armação que testemunhou. Já foi pensando nisso que, no mês passado, com a ajuda de um amigo que serviu de modelo e um fusquinha emprestado, Jorge procurou reproduzir numa nova foto exatamente o que presenciou no dia 4 de novembro de 1969.

O resultado é a segunda cena da página anteior, à direita: o amigo de Jorge, representando Marighella, ocupa o banco da frente do carro, numa posição distinta daquela que a polícia fez questão de espalhar. Eram os anos de chumbo e havia muita coisa para ser escondida.
Os mais famosos retratos da ditadura começam a contar suas verdadeiras histórias. Sérgio Jorge ganhou coragem de revelar a farsa da morte de Marighella depois que o fotógrafo-perito Silvaldo Leung Vieira contou, no dia 5 de janeiro, ao jornal “Folha de S. Paulo” que sua foto do jornalista Vladimir Herzog morto nas dependências do DOI-Codi, em 1975, era – como já se sabia – uma encenação criada pelos militares. Vieira está atrás de uma indenização do Estado brasileiro, pois julga que teve prejudicada sua carreira de funcionário público. Já Sérgio Jorge quer apenas acertar contas com o passado. “Vi que tinha chegado a hora de contar. O Brasil mudou”, diz ele. Durante mais de 40 anos, Jorge remoeu os fatos daquela noite, que é capaz de reconstituir em detalhes. 

Ele e os outros fotógrafos, logo que chegaram à alameda Casa Branca, foram recebidos aos gritos pelo temido delegado do Dops, Sérgio Paranhos Fleury, o homem que comandou o cerco a Marighella. “Não quero ouvir um clique! Todos encostados no muro, com as máquinas no chão!”, ordenou Fleury. Ninguém ousou desobedecer. “Era uma loucura, ficamos vendo tudo aquilo acontecer sem poder registrar nada”, diz Jorge. Marighella estava no banco da frente, com uma perna para dentro do carro e outra para fora, os dois braços caídos e quase nada de sangue na roupa. Três policiais retiraram o corpo do fusca (veja reconstituição acima) e o deitaram na calçada. Abriram a calça de Marighella e revistaram seus bolsos. Tentaram, então, recolocá-lo no banco de trás. “Mas não conseguiam e foi preciso que um dos policiais desse a volta no automóvel e puxasse o corpo para dentro.” A ação durou cerca de 40 minutos até que os fotógrafos foram autorizados a fotografar. Chegando perto do carro, Sérgio Jorge pôde ver que havia uma pasta atrás do banco dianteiro e, sobre o assento de trás, uma peruca e uma capa.

Na presença de Sérgio Jorge e dos demais fotógrafos, os policiais, sem nenhum constrangimento, encenavam um número que viria a se tornar corriqueiro naqueles tempos: o teatro do confronto entre guerrilheiros urbanos e as forças da repressão. A ditadura no Brasil deixou um saldo macabro de 475 adversários mortos, 163 deles ainda desaparecidos. Foi a partir de 1969, o ano da morte de Marighella, que o regime militar ingressou em seu período mais duro e a eliminação de inimigos passou a ser regra. As execuções de militantes de esquerda, sem chance de prisão, tornaram-se tão comuns quanto os laudos fantasiosos de inquéritos policiais destinados apenas a escamotear uma política oficial de extermínio. No caso de Carlos Marighella, o esclarecimento de sua morte é especialmente problemático, pois existem pelo menos três versões conflitantes para ela. Primeiro há a versão dos militares, segundo a qual ele foi varado por uma rajada de metralhadora quando, do banco de trás do fusca dos dominicanos, reagiu a tiros a uma ordem de prisão do delegado Fleury. A perícia, entretanto, acabou concluindo que não saíra um tiro sequer da arma de Marighella.
Desse modo, a tese da polícia parece não ser mais que um esforço para esconder a provável execução sumária do guerrilheiro, além de uma tentativa de driblar uma complicação extra do episódio: a suspeita de que, naquela noite, foi o fogo amigo que matou também uma jovem policial e um dentista alemão que casualmente passava pelo local no momento do tiroteio (outro delegado, um desafeto de Fleury, acabou baleado na virilha). A segunda versão é a dos dois frades dominicanos que a polícia usou como isca para Marighella. Em seu julgamento, os religiosos sustentaram que o guerrilheiro foi executado no meio da rua, longe do fusca em que eles estavam. Por fim, o Grupo Tortura Nunca Mais, em 1996, adotou as conclusões de um laudo em que legistas garantem que Marighella foi morto com um tiro no peito à queima-roupa, que seccionou-lhe a aorta, e alvejado ainda por outros três disparos.
Carlos Marighella era autor do “Manual do Guerrilheiro Urbano”, um confuso texto de 50 páginas que jovens esquerdistas de todo o mundo liam como uma bíblia. Figura principal dos cartazes amarelos que a ditadura espalhava com retratos de terroristas, vinha sendo caçado pelo Dops e monitorado pela máquina de informações dos Estados Unidos. Um ano antes de sua morte, o consulado americano em São Paulo já informara seu governo sobre as relações de Marighella com os dominicanos. Agora, o depoimento exclusivo de Sérgio Jorge à ISTOÉ – e que ele se dispõe a prestar também à Comissão da Verdade, instituída pelo governo para esclarecer as mortes ocorridas durante a ditadura – poderá jogar uma nova luz sobre os fatos, embora ainda seja difícil fazer conjecturas sobre as intenções específicas dos policiais que transferiram o corpo de Marighella para o banco de trás do carro.
Sérgio Jorge foi o primeiro fotógrafo do País a ganhar o Prêmio Esso de Jornalismo. Ele conta que, quando chegou à redação da “Manchete” com a foto do cadáver de Marighella, teve o cuidado de relatar a seu chefe a armação que tinha visto. Ouviu como resposta que a versão de Fleury seria a definitiva e, sempre avesso à política, resolveu se calar. “Todo mundo me dizia para não me meter com essas coisas que era muito perigoso”, diz ele.

O caso só voltou a perturbá-lo cinco anos atrás, no momento em que começou a selecionar fotografias para um livro em seu arquivo pessoal, com mais de 60 mil imagens. As fotos de Marighella não estão com ele: foram parar num arquivo da revista “Manchete”, recentemente leiloado. “Dos fotógrafos que estavam comigo naquele dia, só eu estou vivo. Cheguei à conclusão de que não posso levar para o túmulo a história verdadeira”, diz Sérgio Jorge. “Sempre tive muito medo, mas com a Comissão da Verdade acho que chegou a hora.”
Nilmário Miranda, um dos representantes da comissão do Ministério da Justiça que, em 1996, responsabilizou o Estado brasileiro pela morte de Marighella, considera importante o depoimento de Sérgio Jorge. “Isso vai ajudar a Comissão da Verdade a regatar os fatos históricos”, diz ele. “Ao invés de suicídios, assassinatos cruéis. Ao invés de fugas da prisão, desaparecimentos forçados. Ao invés de tiroteios simulados, execuções à queima-roupa.” O advogado de presos políticos Mário Simas, que foi a primeira voz a afrontar a versão oficial da morte de Marighella, quando fazia a defesa dos frades dominicanos, espera que o depoimento de Jorge possa, finalmente, contribuir para o esclarecimento do caso. “No processo, lancei dez dúvidas sobre a versão oficial que nunca foram respondidas pelo Estado”, diz ele. Simas, que presidiu a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, não tem dúvidas sobre o modo de ação da polícia: “O delegado Fleury era um caçador sem escrúpulos, que não respeitava nada para chegar a seus objetivos.”

Aos 86 anos, a mulher de Marighella, Clara Charf, se espanta ao saber das revelações de Sérgio Jorge. Ela estranha que seu marido, que não sabia dirigir, estivesse ocupando o banco do motorista do fusca. Mas acredita que este depoimento possa enterrar de vez a versão “mentirosa” da polícia. “É um impulso muito grande para a revisão da história”, diz ela. É uma expectativa idêntica à do ex-militante Otávio Ângelo, certamente um dos últimos companheiros que viram Marighella vivo. Membro do Grupo Tático Armado da ALN, Otávio Ângelo estava no derradeiro “ponto” que Marighella cumpriu no fim da tarde do dia 4 de novembro de 1969, antes de ir para a alameda Casa Branca. Eles se encontraram no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo e, segundo Otávio Ângelo, Marighella se mostrava muito preocupado com a segurança da organização por causa da prisão de vários militantes. 
“Ele parecia nervoso, apreensivo”, relembra. “Falava que estávamos no cerco e que, se não conseguíssemos sair desse cerco, não sobreviveríamos.” A previsão de Marighella, como se vê, acabaria cumprida em poucas horas.


Sintonia Fina - Alan Rodrigues



por Mastrandea

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Drummond e o Bêbado

("[...]mas tens um cão")




São 2:00 da madrugada, e há duas horas, completei 37 anos de idade.
Essa data para mim, sinceramente, não se difere de outras quaisquer. Mas há gente que me ama, e tenho que me sentir feliz, e é assim que funciona a vida.
Amanhã tem sorrisos.
Pois estava aqui, já com 37 anos, a terminar de ler alguns textos, e bobagens no Facebook (há informação interessante ali), quando deparei-me, sei lá em que post, com essa foto emocionante e ilustrativa.
Lembrei-me de quando tinha meus vinte-e-poucos, estava ainda no início da universidade. 
Às sextas-feiras, quando chegava e descia do ônibus na rua Augusta, encontrava-me com o Senhor João, um velho sujo e triste, perambulante que sempre, desde que o conheci (também não me lembro como), me aguardava, já soluçante, sentado no meio fio. 
Devido a sua mente sempre sóbria e sábia, como é a de qualquer pessoa que cursa a Faculdade da Puta da Vida, passar minhas sextas com o velho era deleitante.
Minha faculdade não permitiria alguém ter o conhecimento do Senhor João, mas, para ele e a sociedade -  a mesma que o excluía - eu era o bonzinho da história toda (apesar da retribuição financeira atual desdizer essa bobagem que talvez eu tenha escrito agora).
Senhor João havia sido expulso de casa por ser, segundo seus ótimos e imaculados parentes, um desviado, pois "gostava de passar algumas noites embriagado à rua".
Não o deixavam voltar
Mas era censurado por mim quando dizia que concordava com isso. 
Com força e veemência, desmentia-o, e revelava a ele suas virtudes.
Lembro-me que um dia comprei-nos um presente - um litro de uma cachaça amarela de minas.
Não entendo nada de pinga, mas tomei toda naquela noite com Senhor João, e ainda me recordo do seu sorriso com alguns poucos dentes ao ver a prenda.
Nunca o dei um centavo.
Mas lembro-me bem de como ele se emocionava ao ser perguntado com real interesse sobre sua vida...mesmo que tão difícil.
Emocionava-se porque eu era quem estava voltando de uma universidade, mas também era quem olhava em seus olhos.
Desmentia o que ele reproduzia sobre si. Desdizia-o. Exaltei sua força e coragem frente à vida. 
Naquela noite, um sopro de identidade e importância ele teve. Isso o fez chorar.
O álcool só é uma maneira de lidar com tudo de um jeito melhor. 
Há quem ache que mendicância e alcoolismo são preguiça, falta de coragem e caráter.
Curiosamente, gente que teve muita chance. 
Certamente, o Senhor João e o bêbado da foto não tenham ideia do que seja poesia (como muitos que tem chance na vida).
Para o bêbado da foto, e para o Senhor João, não importava o resto...
Tudo bem. Alguém os olhava nos olhos.
Naquela noite com Senhor João, e no dia em que foi esta foto tirada, "uma flor nasceu no asfalto".


por Mastrandea

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Lindemberg enfim vai aos leões


(operação policial de sucesso é quando o criminoso sai na maca, não a vítima)




Hoje julgou-se e condenou-se o autor de mais um caso escabroso de crime contra a vida.
Não quero aqui debater direitos humanos ou coisas assim. Ater-me a tais assuntos faria deste post um livro, e quem me conhece, sabe da minha repulsa à violência, às armas (salvo pela revolução) e que, para mim, só a Educação pode acabar com histórias como estas.  
Muito menos o absurdo que é o fato de meninas estarem perdendo sua infância em nome de um mercado mesquinho de moda e sexo.
Trata-se, aqui, do fato em si. Eloá fora sequestrada, e a polícia tinha de agir.
O que maís impressiona, muito mais que a morte da moça, foi sua permissividade, por imprudência, políticagem e vaidade eleitoral.
José Serra, governador da província à época, e já com seus planos de "querer-ser-desejar-sonhar" ser Presidente da República, em prática, já que é "o-mais-preparado", "o profetizado", não queria que a cena de um sniper esfaçelando o crânio de Lindemberg fosse veiculado pela mídia ao vivo, àquela altura já posicionada como faz no BBB, com suas câmeras em ângulos que talvez não tivessem os próprios atiradores especializados.
Marcos do Val, instrutor de defesa pessoal do departamento de polícia de Beaumont, Texas, fala do "erro"(!) da polícia em ter permitido que o sequestro se alastrasse por mais de cem horas (num país de polícia e governo sérios, isso não duraria mais que quinze minutos) e do que denominou "desastre" o retorno da jovem ao cativeiro - isso, até eu, que nada sou de especialista, muito menos em matéria de tiro e tática de 'puliça', depreendi sem dificuldades, no mesmo momento.
Já vimos esse filme no Rio, com o "motorista" e comandante do famigerado 157. Vidros por todos os lados, e o que se viu? Ao invés do ameaçador baleado, a vítima, morta.
Agora, é claro, o povo pode falar, livremente e com propriedade, que justiça foi feita. Em outras palavaras, chutar a cabeça do 'desgraçado'. A história do folhetim termina, então, como a classe média queria.
Serra então pode, novamente, voltar a ser o-mais-preparado-guardião-da-moral-e-da-paz-e-democracia "à la paulista". Um criminoso. Escroque, evasor de divisas e genocida que levou quase 40% de votos na última eleição para presidente...
Impressiona muito também nada sobre isso ter sido dito.Muito pouco, até mesmo nas redes sociais. Que a influência do governador paulista no final trágico não seria reportagem do JN do mauricinho e da patricinha era fácil de se prever...
Não inocento Lindemberg do seu ato, mas, com mais força, culpo o governo de um insano nazista de, em nome do seu cinismo e demagogia, jogar, agora, o rapaz aos leões, humilhantemente, para deleite da classe média que lota nossa grande arena que é a mídia e seus fiéis escudeiros.




por Mastrandea

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

POLÍTICA - José Serra vem aí?


Do blog do Ricardo Kotscho.

José Serra vem aí? É a volta da velha novela


Não deu outra. Sai eleição, entra eleição, a velha novela se repete com o mesmo suspense: José Serra vai ou não vai ser o candidato tucano?

Pode ser eleição municipal, estadual ou presidencial, não importa. O eterno candidato sempre começa dizendo que não quer, ainda não sabe o que fazer, pede um tempo para decidir, comunica "oficialmente" que não será, depois aceita conversar, e assim vai deixando os tucanos cada vez mais agoniados.

Desta vez, não foi diferente. Depois que Serra recusou a candidatura, o PSDB decidiu marcar prévias para o dia 4 de março, com quatro pré-candidatos que estão em campanha há seis meses, mas um fato novo fez Serra desistir de desistir da candidatura a prefeito para ir à luta novamente.

O fato novo chama-se Gilberto Kassab, até outro dia seu protegido e fiel aliado, que resolveu pular a cerca e, diante da indecisão dos tucanos, começar um namoro firme do PSD com o ultra-inimigo PT.

Com isso, o prefeito, que não tem candidato viável e está no fundo do buraco em termos de popularidade, conseguiu rachar os dois maiores partidos da cidade. Metade do PT não quer esta aliança com o PSD de Kassab e metade do PSDB insiste nas prévias que, obviamente, Serra não quer.

Para se ter uma ideia do reboliço causado por Kassab na campanha eleitoral paulistana, a notícia de que Serra aceitaria ir para o sacrifício para tirá-lo do colo dos petistas, rachou a direção tucana já na segunda-feira.

"Há chances concretas de Serra ser candidato", proclamou o presidente municipal do PSDB, Julio Semeghini, confirmando o noticiário de que José Serra vem aí novamente.

"Acabar com as prévias agora é assinar o atestado de óbito do PSDB. Mesmo que os quatro pré-candidatos desistam, ainda assim ficaremos numa espécie de UTI", respondeu o presidente estadual, Pedro Tobias.

Entre os dois, postou-se em cima do muro o governador Geraldo Alckmin, que passou a bola para Serra. "Se ele quiser ser, é um ótimo candidato. Essa é uma decisão pessoal do Serra que nós devemos aguardar".

O problema é que nenhum dos quatro pré-candidatos deu sinais de que pretende abrir mão das prévias deixando o caminho livre para Serra, como ele impôs ao governador Geraldo Alckmin como pré-condição para aceitar a candidatura.

"As prévias são irreversíveis, estão aí, e sou pré-candidato. Espero ganhar. O Serra se inscreve e segue o procedimento", avisou José Anibal, secretário de de Energia do governo do Estado.

"Vou até o fim", anunciou o deputado Ricardo Tripoli. Até o serrista Andrea Matarazzo não parece disposto a abrir mão da pré-candidatura: "Ele tem dito que não é candidato, mas as coisas não são fixas. Precisa ver o que ele decide, o que o governador decide e o que o partido decide". Só o alckmista Bruno Covas não disse nada.



A aproximação de Kassab com o PT deixou José Serra numa encruzilhada diante de três hipóteses, nenhuma delas boa para seus planos de uma nova candidaturta presidencial em 2014:

# Se sair candidato a prefeito, e ganhar, não poderá deixar o cargo de novo, no meio do mandato, como já fez em 2010.

# Se perder, não terá condições políticas nem ânimo para se candidatar a mais nada, só lhe restando encerrar melancolicamente a carreira.

# Se ficar sem mandato até 2014, corre o risco de sumir do cenário fazendo política só pelo twitter, cada vez mais isolado no partido.

Desde o início desta nova fase da velha novela, Gilberto Kassab deixou bem claro para todos que só não faria a aliança com o PT de Lula se Serra fosse o candidato do PSDB _ na certeza de que o amigo não seria candidato.

E agora? Como fica o prefeito? Ao ser perguntado sobre a possível candidatura Serra, ele disse que ficaria numa situação "desconfortável".

Mais do que isso, Kassab não poderá ficar eternamente jogando dos dois lados. A brincadeira tem prazo para acabar. Lula já anunciou que quer antecipar a aliança com o PSD para março.

Também de olho em 2014, Serra agora tem pressa. Em conversa com tucanos, segundo o noticiário da "Folha", Serra avaliou que seria "um desastre" para qualquer projeto político do PSDB uma aliança entre o PT e o PSD.

Ou seja, para evitar o desastre tucano, só tem um jeito de segurar Kassab: se Serra for o candidato a prefeito.

Ainda outro dia escrevi aqui que esta campanha eleitoral em São Paulo promete fortes emoções. Não percam os próximos capítulos. Estamos só no começo.



Sem autorização, retirado do Blog de um sem-mídia:




por Mastrandea